Como foi receber o diagnóstico?
Tudo isso começou numa sessão de
terapia com a Dra. Maria de Lourdes, em Arujá.
Não lembro exatamente sobre o que
estávamos discutindo, mas, durante a sessão, a doutora me perguntou se eu sabia
o que era "Síndrome de Asperger"; na hora, eu perguntei se ela estava
me chamando de autista, porque, talvez naquele mesmo dia, eu tinha lido uma das
revistas de psicologia na sala de espera, e uma das matérias era exatamente
sobre isso. Naquele momento, meu diagnóstico foi confirmado.
Posso dizer, com toda certeza, que receber o diagnóstico foi uma surpresa, mas, ao invés de reagir de forma negativa, confesso que dei uma risada, e abracei o diagnóstico de autista.
Desde aquele dia, fiz algumas pesquisas sobre o assunto - desta vez como autista, e não apenas como curioso. Admito que as pesquisas eram voltadas mais sobre a Síndrome de Asperger, da qual sou portador. Em uma das pesquisas, consegui destacar as principais características de quem é portador desse quadro, e a maioria delas batia com o que eu tinha com certeza desde o início da vida.
Receber o diagnóstico de autista foi uma das melhores coisas que me aconteceram.
Não vou dizer que foi uma resposta, porque, sinceramente, nunca acreditei que havia algo de errado comigo; apenas achava que era assim e ponto.
Enfim, há seis anos, convivo com isso. Foi uma maravilha? Foi. Ajudou a desvendar os mistérios da minha vida? Talvez. Adorei receber o diagnóstico? Com certeza. Mudou minha vida? Com certeza.
Não vou mentir. Apesar de ter recebido o diagnóstico, gostaria que minha vida fosse perfeita, mas, infelizmente, não é. Passo por inúmeras dificuldades, principalmente envolvendo relacionamentos, um dos principais desafios dos autistas, e até hoje, não consigo resolver esses problemas, o que me causa sofrimento.
Minha primeira experiência com autismo.
Bom, eu já contei
como foi minha primeira experiência com o autismo, por meio daqueles vídeos da
Turma da Mônica, com o garotinho autista.
Acredito que agora seja o momento de dizer como o diagnostico de Autista de Alta Funcionalidade “afetou” minha vida. Vou começar dizendo que, após receber o diagnostico, eu fiz algumas pesquisas “amadoras” sobre o assunto, buscando o máximo de informações que estavam ao meu alcance, principalmente as que tivessem relação com a Síndrome de Asperger, minha atual condição de autismo. Com toda certeza, a pessoa que mais ajudou – e continua ajudando – foi minha psicóloga, que além de me explicar como funciona o cérebro de uma pessoa como eu, também me deu duas indicações de filmes que abordavam o assunto: o drama romântico “Loucos de amor” (2005), e a elogiada animação Stop-Motion “Mary & Max: Uma amizade diferente” (2009). Ambos os filmes falam sobre o mundo autista de maneiras diferentes, mas muito sinceras. Além dos filmes, eu também fiz umas pesquisas sobre a S.A. e de repente, algumas coisas começaram a fazer sentido para mim, principalmente no que dizia respeito à minha responsabilidade.
Além das características referentes à S.A., como por exemplo: timidez, a falta de traquejo social e o interesse especifico sobre determinados assuntos, descobri que alguns traços de autismo também estavam presentes em mim, como:
- meu gosto por objetos que rodam, como ventiladores, rodas, globos;
- minha mania de repetição, sendo a mais comum, de cenas de filmes/programas de TV;
- minha despreocupação com minha aparência;
- o fato de estar quase sempre sozinho, e não querer falar com ninguém;
- minha ingenuidade em relação às pessoas e às brincadeiras, um dos motivos pelo qual eu era vitima de bullying na escola
Cada um desses
itens passou a fazer um enorme sentido para mim após o diagnostico, mas,
falarei sobre eles mais adiante.
O que vim dizer aqui é como o diagnostico afetou minha vida.
A resposta é a seguinte.
Minha vida mudou completamente. Saber que sou autista faz com que eu me sinta, de certa forma, diferente das outras pessoas, a quem um me refiro como “pessoas normais”, porque eu sei o que me faz diferente delas, e francamente, isso me assusta, e muito, porque não sei como as “pessoas normais” podem me ver, ou já veem. Para um profissional, talvez seja mais fácil, porque ele já sabe qual é o meu “problema” e vai saber me orientar para que eu possa melhorar, o que, já adianto, não é fácil. Agora, para um leigo, a coisa é mais complicada, não apenas pelos motivos que acabei de citar, mas porque, ele talvez não compreenda e não procure se informar sobre o assunto.
Posso afirmar também que ser autista de certa forma me fez enxergar melhor essa condição, além de despertar minha curiosidade para tentar entende-la e, inclusive, aceita-la.
Matheus L. Carvalho é
escritor. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Braz Cubas
(UBC) de Mogi das Cruzes, é autor dos livros O Vale dos Lobos e Paraíso
Azul, publicados pela Scortecci Editora. Foi diagnosticado autista em 2013.
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