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O nascimento de uma mulher autista

Nasci no dia 03 de setembro de 2018. Essa foi a data do meu diagnóstico. A partir dele, muita coisa mudou de forma que eu pude considerar essas mudanças um renascimento. Ao longo de toda a vida me senti diferente, estranha, como se não pertencesse a lugar algum. Afinal, eu me perguntava: por que meu pensamento pode ser tão rígido e radical? Por que tenho poucos amigos e não faço questão de ficar saindo e me socializando com frequência? E mais estranho, por qual motivo os sons para mim são tão altos? Por que passo mal toda vez que fico muito tempo fora de casa ou me socializando? Por que me sinto enjoada com alguns odores? Por que não gosto e sinto agonia que as pessoas me abracem ou toquem sem que eu queira? Por que é difícil entender e seguir códigos sociais? Por que compreendo as coisas literalmente algumas vezes? Por que não “capto” entrelinhas com facilidade ou sequer imagino que elas existam? Por que não sou como a maioria das pessoas? Fui levada a acreditar que nasci com a pior personalidade possível e que, para desconstruí-la e ser aceita, eu deveria tentar ser como todo mundo; ainda bem que fracassei miseravelmente, pois só assim fui acordada para a possibilidade de ser AUTISTA. Como muitas outras pessoas, também sabia pouco sobre a condição, tinha uma visão limitada e baseada no senso comum. Procurei saber o máximo que podia a respeito, conversar com autistas adultos e um mundo inteiro de informações e realidades se abriu para mim. Descobri que o Transtorno do Espectro Autista é uma condição, não uma doença; que eu possuo hipersensibilidade sensorial, além de outras características comuns dentro do autismo, como a interpretação literal, a rigidez de pensamento, o hiperfoco, etc. Meu cérebro é diferente e não há nada de errado nisso! Após o diagnóstico, participei de um show aberto pela primeira vez, num evento inclusivo e adaptado, o COMA. Estive num Carnaval, graças ao Nós Iniciativa e ao Instituto Ninar. Conheci uma agência inclusiva de modelos, a GJM e, por essa oportunidade dada pela Gisah e o Jaime (que adaptaram os eventos e atuaram como um apoio emocional necessário), hoje atuo como modelo e viajo na próxima semana representando o DF no Osasco Fashion Week. Para quem até pouco tempo sofria com crises de pânico e não saía de casa, estar num ensaio de passarela, desfilar, conseguir falar com mais pessoas do que de costume e abrir espaços para outros autistas como eu é uma enorme vitória! Tão gratificante quanto foi fazer novos amigos e planejar projetos maravilhosos como o Autistas em Ação, com o qual queremos ajudar pessoas a obterem seu diagnóstico de TEA, chamar a atenção para o mercado de trabalho e o autismo adulto, focar nas habilidades do autista e realizar a I Semana de Arte Inclusiva, por exemplo, com artistas que possuam alguma deficiência. Com muita satisfação compartilho hoje um pouco da minha história, nesse dia tão significativo para as mulheres, esperando que encontrem inspiração sempre em si mesmas e no seu desejo de se conectarem com quem realmente são e aquilo que amam fazer.
Feliz Dia para nós! Raquel do Abiahy

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