Autista ou não você já deve ter percebido uma população imensa de familiares "azuis" na internet.
Para mim isso é muito estranho se você partir do princípio de que assim que você fala, uma imagem surge automaticamente na minha cabeça.
Obviamente que se você diz que tem uma criança azul na sua casa, automaticamente meu cérebro já pensa em uma espécie de filhote de avatar.
Como isso não faz o mínimo sentido, a gente pode deixar as brincadeiras a parte e mergulhar nessa história de ser azul e entender o motivo pelo qual a maioria dos autistas não gostam desses termos.
Para isso temos que saber de onde veio toda essa história.
Dizia-se que o autismo era azul porque antigamente (e quem vive de passado é memória ou museu), para cada 4 meninos diagnosticados, uma menina estava dentro do espectro.
Era 4 a 1 porque evidentemente que nós, mulheres autistas, somos adestradas desde pequenas a sermos as "educadinhas".
E, por termos mais habilidades em copiar comportamentos alheios do que os meninos, nossas características autísticas não ficam tão perceptíveis assim.
Não é a toa que ouvimos direto que não parecemos autistas.
Isso tudo dificulta o diagnóstico, porque o autismo acaba sendo confundido com timidez, antipatia, gênio forte (a teimosia é uma das características autísticas), etc.
Mas se você tiver um olhar observador bem aguçado, ou se for autista, com certeza vai saber diferenciar uma menina no espectro de uma neurotípca.
E como antigamente a medicina era menos evoluída e quase ninguém conhecia sobre autismo (hoje não ta muito diferente), as meninas cresciam sem serem diagnosticadas.
O que explica também o aumento "exagerado" de diagnósticos de mulheres adultas.
Parece epidemia como muitos falam, parece banalização do espectro, mas, não é.
O fato é que todas aquelas meninas que não eram diagnosticadas na infância, agora estão sendo.
E os testes de autismo também evoluíram, a ciência avançou e hoje temos mais informações do que antigamente.
O que significa que esses números, de 4 meninos para 1 menina, já estão mais do que ultrapassados.
Então não dá pra viver nas épocas que a sua tataravó era viva né? Vamos seguir em frente e aceitar a realidade que está aí pra quem quiser ver:
O autismo não é mais azul.
Agora a gente já pode tratar de outra questão. A paleta de cores que existe no autismo porque se ele não é mais azul, de que cor ele seria então?
A verdade é que os autistas estão dentro de um espectro, o que também significa que nenhum autista é igual ao outro.
E esse espectro é tão grande que não dá para sair generalizando as coisas. Então porque faríamos isso com uma cor não é mesmo?
Vamos fazer jus ao que realmente é correto HOJE em dia:
O autismo é colorido.
Ele não é mais azul, mas sim é um espectro de infinitas cores e possibilidades.
Fechar os olhos a isso é viver em um passado onde nós mulheres sofríamos por ser diferente e não tínhamos a mínima esperança de receber auxílio psicológico.
Continuar afirmando que o autismo é azul é uma forma de exclusão às mulheres autistas.
Fazendo isso, você está automaticamente anulando ou negligenciando milhares de diagnósticos para se manter em um modelo antigo onde nem a diversidade do espectro era considerada.
Então, se você realmente prega a inclusão...
Se realmente vive esbravejando pela internet em forma de compartilhamentos de posts que você não é uma pessoa preconceituosa...
Se acredita que nós mulheres autistas também temos o nosso espaço na sociedade e o direito de sermos diferentes como somos, compartilhe esse post com aquela mente azul que você conhece pra que a gente comece espalhando o colorido da verdadeira inclusão no mundo.
AUTISMO E O QUEBRA CABEÇAS DA DESORDEM
E se a gente falou de cores, não podemos deixar de continuar falando do que não nos representa.
Mas mantenha a tranquilidade que vai ser tudo explicadinho nos mínimos detalhes para que você não fique com nenhuma dúvida.
A não ser que você seja aquela pessoa pirracenta que vai ficar fingindo que não entendeu só pra contrariar o que eu, como autista diagnosticada, tenho para te dizer.
Você já deve ter visto bastante quebra cabeças por aí quando a gente resolve falar de autismo não é mesmo?
Pois é. Isto não me representa.
Na verdade o símbolo do quebra cabeças não representa nenhum de nós do Autistas em Ação.
Se você achou estranho ou teve o mínimo de curiosidade em saber o porque de toda essa resistência em adotar um símbolo tão fofuxinho, presta bem atenção as linhas seguintes porque se você não mudar agora sua percepção sobre isso agora, não irá mudar nunca mais.
O quebra cabeças azul, foi usado popularmente em 1963 pela Autism Speaks.
Na verdade esse quebra cabeças nos coloca em uma posição super desagradável e preconceituosa porque significa que somos difíceis de entender.
E mesmo quando todo o quebra cabeças é montado, ainda falta uma peça.
Essa pecinha "azul" que está faltando é a "cura".
A Ong que utilizou esse simbolo e o popularizou nos coloca em uma condição patológica e de pessoas limitadas que só serão tão capazes quanto os outros seres humanos se essa suposta cura for encontrada.
Agora, partindo do princípio de que esta é a realidade dos fatos, se você for autista e estiver lendo este texto, olhe para você mesmo e me responda: Você é algo complexo, defeituoso, que precisa ser curado?
E caso você não seja autista, mas sim alguém que tem um autista na família, exercita a empatia e se coloca no nosso lugar.
Você gostaria de passar por isso? De que as pessoas tivessem uma visão capacitista sobre você? De que as pessoas te considerassem alguém que falta uma parte para ficar curado?
Pois é! É por isso que o quebra cabeças me irrita tanto e o único post que você vai ver um, é aqui, neste artigo, porque é óbvio que se eu estou falando de quebra-cabeças eu não vou colocar um dominó aqui né?!
Agora você já conhece um pouquinho sobre a minha forma de pensar nesses assuntos autísticos mas, se quiser saber mais ainda, pode clicar AQUI porque daí você vai ser redirecionado para o meu Instagram e lá tem um montão de postagem pra você curtir e interagir com a galerinha super gente boa que me segue.
Mas vamos continuar o papo porque está interessante.
AUTISMO E A FITA DA DESGRAÇA
Você já viu aquela fitinha bonitinha toda coloridinha que representa o autismo?
Você gosta dela?
Pois é, eu estou aqui mais uma vez para desconstruir esses conceitos e mostrar o nosso lado autista da história sobre essa fita.
Afinal de contas, temos voz e precisamos nos posicionar a respeito de tudo o que inserem no nosso "universo autista".
Não é difícil te fazer entender o porque nós do Autistas em Ação refutamos tanto essa fitinha colorida.
Ela não é motivo de orgulho porque representa na maioria das vezes uma coisa ruim, uma desgraça.
Agora você deve estar achando que eu pirei de vez e estou radicalizando as coisas demais né?
Ok, vamos por partes.
Você alguma vez já foi a um velório ou certamente já ouviu falar que algumas pessoas costumam usar uma fitinha preta presa a roupa em sinal de luto. Pois bem, luto é uma tragédia.
Você já viu as campanhas contra o HIV? As pessoas usam uma fitinha vermelha em sinal a conscientização, para que seja evitada uma tragédia na saúde delas (se prevenir e fazer exame caso algum "acidente" aconteça na minha opinião é mais inteligente do que usar fitinha).
E quem nunca viu as campanhas do outubro rosa, onde você pode encontrar fitinhas rosa por todas as redes sociais para a conscientização da prevenção para que não aconteça uma tragédia chamada câncer de mama?
O fato é que onde tem fitinha, o assunto é conscientização à prevenção para que não aconteça uma desgraça ou luto.
O autista não é um problema que precisa ser prevenido porque autismo não é doença!
Logo... não faz o menor sentido que a gente continue usando fitinha como símbolo do autismo.
NOSSO SÍMBOLO
Já que eu te trouxe tanta informação em um único artigo e você deve estar se perguntando coisas do tipo:
Se a fita, e o quebra cabeças é tão ofensivo aos autistas, que símbolo eu posso usar então para melhor representar o autismo?
A resposta para isso é muito simples, porque existem diversos símbolos criados pelos próprios autistas que nos representam muito bem!
A nossa logo aqui do Autistas em Ação por exemplo, traz uma história bem legal. Ela basicamente representa que entregamos a coloração do espectro que está em nossa mente para que você também possa ter uma mente colorida, deixando para trás aquela mente azul e antiga.
Tem também o Símbolo das deficiências invisíveis que é um Girassol...
...tem o símbolo do Infinito colorido que é o símbolo da neurodiversidade e tantos outrso que você pode encontrar por aí.
Mas se não gostar de nenhum (o que eu acho muito difícil), pode criar seu próprio símbolo, como eu mesma fiz, desde que ele não desrespeite as pessoas autistas com nenhuma característica ou ideia capacitista e/ou preconceituosa.
Eu vou ficando por aqui e espero que todas as informações passadas aqui possam te ajudar de alguma forma a entender mais um pouco como nós pensamos e nos posicionamos a cerca de diversos assuntos.
E se quiser deixar alguma crítica construtiva ou sugestão para um próximo artigo, fique à vontade para utilizar os comentários.
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