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O MISTÉRIO DOS HIPERFOCOS.







Com toda certeza, uma das nossas principais características são os hiperfocos.

Mas, o que são hiperfocos? Bom, a minha definição para o termo é a seguinte – corrijam-me se eu estiver errado - : um foco em algo especifico que desperta nosso interesse. Acredito que seja uma boa definição.

Pois bem, o objetivo deste texto é justamente esse, falar sobre meus hiperfocos. Como toda pessoa que está no espectro, acredito, eu possuo mais de um hiperfoco; não sei exatamente quantos são, porque, com o passar do tempo, alguns simplesmente desaparecem; no entanto, apesar disso, posso afirmar com toda certeza quais são os mais recorrentes – e por que não, permanentes: Polvos, filmes de terror, livros, morcegos e lobos.

Conforme acabei de mencionar, eu tenho outros hiperfocos, mas não me lembro de todos; então, neste texto, me focarei apenas nos cinco permanentes, sobre como eles acabaram entrando na minha vida.  





Polvos.
Não sei dizer ao certo – e isso será recorrente aqui – como foi que este surgiu, mas acredito que sei quando. Foi após assistir ao filme 20.000 Léguas Submarinas, lançado pela Disney em 1954; mais especificamente, a cena em que a lula-gigante ataca o Náutilus, obrigando o Capitão Nemo e seus tripulantes a contra-atacar. Minhas memorias de como reagi ao filme são limitadas, mas me recordo de achar a cena da lula, fascinante, principalmente, a própria lula, com seus tentáculos gigantescos no ar, agarrando os tripulantes do submarino, além daqueles olhos enormes. Com o passar do tempo, outros filmes e documentários despertaram meu interesse não apenas pelos polvos, mas pelos outros cefalópodes, como as lulas e as sibas. Minhas espécies de polvo favoritas são o polvo-comum e o polvo-gigante-do-Pacífico.





Filmes de terror.
Este talvez seja um dos mais antigos, porque surgiu na mesma época que eu comecei a me interessar por cinema. Eu cresci assistindo as animações da Disney – coisa que faço até hoje – e algumas delas apresentavam elementos de horror, elementos esses que eu até hoje associo com o gênero. No entanto, eu só fui assistir meu primeiro filme de terror aos 5 ou 6 anos de idade: Uma Noite Alucinante 3, o encerramento da Trilogia Evil Dead, do diretor Sam Raimi. Ao invés de me assustar, o filme me deixou fascinado, principalmente aqueles esqueletos brandindo espadas e escudos. Até hoje, é um filme pelo qual eu tenho um carinho muito especial.






Morcegos.
Em relação aos morcegos, o caso é parecido, pois ocorreu na mesma época, e da mesma forma. Até hoje, são meus animais favoritos, e meu fascínio e amor por eles cresce mais e mais. Eu simplesmente acho esses animais fascinantes, seja pela sua aparência, seja pelo seu papel no ecossistema, seja pela sua mitologia. Já tive o prazer de ver alguns na vida, inclusive, de segurar um nas mãos antes de libertá-lo. Mas, dentre todas as espécies, o meu favorito é o morcego-vampiro, que habita as Américas Central e do Sul, e se alimenta do sangue de outros mamíferos.





Livros.
Este surgiu um pouco mais tarde, há apenas alguns anos. Como toda criança, eu nunca demonstrei grande interesse em ler, porque, como toda criança, achava uma coisa chata. Minha mãe até tentou incentivar a leitura alguma vezes, com livros do Monteiro Lobato, mas, não obteve grande sucesso. Meu interesse começou a mudar quando fomos visitar a Biblioteca Pública daqui de Santa Isabel. Acredito que tanto o ambiente quanto o odor – de livro antigo – despertaram meu interesse na leitura, ainda que de forma resumida. O primeiro livro que cheguei a ler – mesmo que não da forma correta – foi Tubarão, do autor Peter Benchley, que peguei emprestado da própria biblioteca. Digo que não fiz a leitura da forma correta porque nunca cheguei a lê-lo com a devida atenção ou no ambiente adequado. A primeira leitura verdadeira aconteceu somente anos depois, quando fui “obrigado” a ler um livro de literatura brasileira para um trabalho de escola. Ao invés de detestar, adorei a experiência, e até hoje, a leitura é um habito que adoto sempre que possível.





Lobos.
Este também surgiu um pouco mais tarde – na verdade, diria que a própria origem é uma incógnita. Bom, eu acredito que o me despertou a paixão por eles foi o filme Caninos Brancos, baseado no livro de Jack London e lançado pela Disney nos anos 90. Na verdade, o que mais me fascinou sobre o filme foi seu protagonista, o cachorro Jed, que interpretou o personagem-título. A partir daquele momento, os lobos se tornaram mais um dos meus animais favoritos, e o motivo é até bem simples: são animais lindos, tanto os cinzentos quantos os brancos. Acho maravilhoso como eles possuem uma elegância própria. Inclusive, minha fascinação por eles serviu de inspiração para o meu primeiro livro. Ou seja, resolvi unir dois hiperfocos.

E é isso. Estes são meus cinco hiperfocos permanentes. Claro, de vez em quando surgem outros, mas são sempre passageiros e quase sem importância. Acredito que isso aconteça com
todos que fazem parte do espectro autista.

E como eu vejo os hiperfocos? Bom, para mim, são excelentes ferramentas de entretenimento, distração e, principalmente, felicidade. Alguns deles sempre me fazem bem em momentos de depressão e me ajudam a escapar da minha própria realidade.

Esse é o meu ponto de vista. Não sei se todos partilham da mesma opinião; inclusive, eu chego a pensar de os hiperfocos são um dos maiores mistérios do universo autista.

O que você acha?






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