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AUTISMO: UMA VOZ QUE DEVE SER OUVIDA!




Sabe-se que o autismo está em evidencia, graças aos meios de comunicação, como a televisão, por exemplo. Mas, vocês já perceberam que apesar de abordarem o assunto, os programas de televisão quase nunca entrevistam os autistas, e sim, profissionais de saúde?
O que isso faz parecer? Do ponto de vista de muitos autistas, faz parecer que nós não sabemos falar por nós mesmos. Sim, alguns autistas apresentam dificuldades na comunicação verbal, mas, são geralmente os que se encontram no nível Severo do espectro. Já os autistas que estão no nível Leve do espectro – também conhecido como Síndrome de Asperger – possuem capacidade de comunicação verbal, por exemplo. Então, por que não nos deixam falar por nós mesmos? Eu acredito que o motivo seja justamente esse: as pessoas acham que nós não sabemos.
E justamente por esse motivo, muitas vezes as reportagens que saem nos telejornais são errôneas, ou não contêm informação necessária; e como resultado, a visão que os neurotípicos têm do autismo fica muito limitada. Um dos exemplos foi uma série de reportagens exibida na TV Globo há alguns anos. Não tive acesso ao conteúdo integral, mas, pelo que vi, a forma como conduziram a matéria foi exatamente essa: os entrevistados eram profissionais de saúde e pais de crianças autistas. O resultado foi uma matéria confusa e sem conteúdo. E a coisa se repete. Nos últimos tempos, temos visto o apresentador Marcos Mion em todos os meios de comunicação, dando seu parecer a respeito da nova lei aprovada pelo presidente da República. Como se sabe, o apresentador tem um filho que está no espectro; então, ele passou a divulgar seu parecer sobre isso. O problema é que vemos somente ele dar a sua voz, e não seu filho. Por quê? Talvez por ele ser famoso, ou então, porque o rapaz não possui condições de se comunicar verbalmente. Bom, não sei. O que sei, é que muitas pessoas que têm convívio com autistas, e até os próprios autistas, não ficaram felizes com o que viram; e fica fácil entender o por quê. As postagens nas redes sociais mostram o apresentador como um tipo de “porta-voz” do movimento autista, e não é bem assim. Autistas não deveriam ter “porta-vozes”, porque nós sabemos nos expressar sobre nossa condição, seja verbalmente, seja por outros meios.
Porém, essa historia tem também outro lado. Existem casos em que outras pessoas falaram sobre os autistas, mas obtiveram resultados satisfatórios. Um exemplo é o Dr. Dráuzio Varella, que chegou a conduzir uma serie de reportagens sobre o tema no Fantástico, da Rede Globo, há alguns anos. A série fez uma ótima abordagem sobre o autismo, e contou com entrevistas de médicos especialistas, e também com depoimentos de pessoas dentro do espectro.  Ao contrario dos demais, esse foi um exemplo em que tanto o meio quanto a mensagem foram favoráveis aos autistas. É sempre que isso acontece?
Infelizmente, não. São poucos os casos em que os autistas dispõem de liberdade para falar; claro, nos últimos tempos, a situação tem mudado, e para melhor. Há algumas semanas, ocorreu, em Brasília, um debate virtual sobre o autismo, que contou exclusivamente com a presença de autistas. Foi um debate muito esclarecedor, onde os participantes mostraram-se abertamente, sem máscaras, expondo suas dificuldades, vitorias, principalmente em relação ao preconceito existente sobre o assunto. E não é só isso. Existem também diversos grupos sobre autismo nas redes sociais, muitos deles criados e administrados por autistas, onde os participantes discutem entre si sobre o assunto, expondo sua realidade.
O que isso significa? Que os autistas estão abrindo espaço no mundo? Pode-se dizer que sim. Esse tipo de atitude mostra que pessoas dentro do espectro estão dispostas a deixar o medo de lado e enfrentar a sociedade, seja pelas redes sociais, seja utilizando outros meios de comunicação, como rádio e a televisão.
Para concluir, com base no assunto aqui abordado, fica a questão: autismo está mesmo ganhando espaço no mundo? O que você acha?


Matheus L. Carvalho é escritor. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Braz Cubas (UBC) de Mogi das Cruzes, é autor dos livros O Vale dos Lobos Paraíso Azul, publicados pela Scortecci Editora. Foi diagnosticado autista em 2013.

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